sexta-feira, 24 de junho de 2011

CAPÍTULO 7

- O senhor fará isso, estou certa professor Walker?
- Claro que sim Sra Davidson.

A sra Davidson era a diretora. Uma mulher arrogante, estressada e que sempre andava com o nariz empinado. Muitos alunos a apelidaram maldosamente de "Cheira bosta" pois era essa a impressão que a expressão em seu rosto passava. A diretora Davidson parecia estar constantemente sentindo algum cheiro ruim principalmente quando algo a desagradava e sua narinas, que já eram enormes, se abriam ainda mais.
Kevin analisava essa figura esquisita sentada à sua frente. Os alunos realmente são criaturas fascinantes. Quem no mundo iria ter a capacidade de associar aquela mulher à Vovó da Família Addams? E o pior, eles estavam absolutamente corretos. A diretora era de fato, assustadora.

- Os alunos do último ano são, como posso dizer, lentos. Se é que o senhor me entende. Em especial Valerie Smith e Gregory Gordon. Pude observar que os alunos, por mais ignorantes que sejam, conseguiram ao final deste trimestre obter algum êxito em sua matéria - pontuava com voz de desdém passando os dedos esqueléticos na lista de notas- exceto esses dois. Entenda minha situação, nos últimos 2 anos, nossos alunos conseguiram vagas em excelentes universidades incluindo a NYU, o que nos dá algum tipo de credibilidade, não é mesmo? No entanto, não podemos esperar muito dos formandos deste ano.
- Sra Davidson, eu farei o possível para ajudá-los, prometo.
- Não! Não, não e não! Nada de promessas! E eu não quero que o senhor faça o possível. O senhor fará o impossível também! Eu quero esse tipo de gente o mais longe possível da minha escola, mas é claro, não quero estragar a reputação que conseguimos obter nos últimos anos.

Kevin segurou a língua. "Minha escola"? Até onde ele sabia, escolas públicas pertecem ao poder público!

- Estamos entendidos?
- Hã? Claro! Entendi!
- Agora se me der licença, tenho outros assuntos a tratar. Ah, e bata a porta ao sair.
- Claro! Com licença!

Assim que ouviu o click da maçaneta atrás de si, Kevin sentiu o chão desaparecer sob seus pés.
Olhou ao redor e visualizou o banheiro dos professores, o único lugar que se assemelhava a um refúgio.

3 meses! 3 meses se passaram desde que a vira pela primeira vez! E ainda assim, sua presença o perturbava. No começo sentia raiva, mas agora sentia desejo. Como poderia encarar Valerie Smith depois dos sonhos que vinha tendo? Claro que tudo não passava de fruto da sua imaginação, mas ainda assim eles pareciam tão reais. Podia sentir o corpo quente e delicado sob suas mãos. Ouvia os sussurros em seu ouvido. Podia sentir a culpa que emanava de Valerie misturada com desejo e medo.

Não havia como não se sentir abalado. A garota era perfeita em termos de estética. E como se isso não bastasse ela possuia uma espécie de magnetismo natural sobre ele. Sentia como se a conhecesse e toda vez que se olhavam ou se esbarravam sem querer pelos corredores, ele sentia uma necessidade imensa de tomá-la em seus braços e simplesmente fugir!Era estranho!

Aliás seu mundo e suas concepções haviam ficado estranhos.Desde que a conhecera passou a se sentir um completo idiota por ter feito tantas piadas a respeito das crenças de sua mãe.

Será que de fato,ela estava correta? Será que existe mesmo essa coisa de vidas passadas?

sexta-feira, 17 de junho de 2011

CAPÍTULO 6

Sentiu a brisa fresca em seu rosto. Tinha cheiro de terra molhada,de água e de folhas secas. Tinha gosto de outono e carregava a paz que somente o Éden parecia ter.
Mas não demoraria hoje. Só precisava informá-lo que não mais poderiam se ver. Se "eles" soubessem que esses encontros existiam, sem dúvida iriam bani-lá. Não aguentaria viver como aqueles outros, aquela corja. Precisava por fim nisso tudo hoje!

Porém, seus pensamentos foram rapidamente esquecidos quando sentiu sua presença forte e encantadora. Podia sentir que aqueles olhos negros estavam fixos nela. Forçou sua visão e pôde ver que aquela silhueta alta e atlética que vinha em sua direção subitamente parou.
Sentiu desejo.
Não que soubesse o real significado dessa palavra, mas sabia que algo dentro de si gritava, se contorcia.

Precisava sair dali urgentemente antes que fosse tarde demais. Tarde demais para ambos. Mas simplesmente não conseguia se mover. Estava paralisada por causa daquela estranha sensação.

O rapaz aproximou-se um pouco mais e, embora permanecesse ainda sob as sombras dos pinheiros ela sabia que ele encarava a nudez de seu corpo.
Virou-se sentindo constrangida e tentou cobrir com os braços o máximo que pôde de seu corpo. Estava a ponto de chorar quando sentiu aquelas mãos mornas a acalentarem.

"Não se preocupe! Não farei nada que não queira!"

Nada que não queira. Será que realmente não queria nada?

Fechou os olhos e se deixou afundar nos braços e no abraço do rapaz.
Não podia negar. Estava claro que queria sentir seu corpo no dela.

Sentiu os lábios macios beijarem seu pescoço, depois sua nuca e finalmente sua orelha.

"Eu te amo, meu anjo!"- sussurrou naquela voz grave e suave.

Ela congelou. Amor? Não! Isso jamais poderia ser possível! Viera até aqui justamente para dizer que nunca mais se veriam! Não podia deixar que aquilo continuasse.
Cuidadosamente retirou as mãos que agora seguravam sua cintura e atrevou-se finalmente a olhar aquele rosto...

Aquele rosto...Aqueles olhos negros...Aquele sorriso...

Valerie acordou assustada! A testa estava molhada de suor. Tremia...

- Já estava indo te acordar, mocinha. Já estamos fechando.- disse a bibliotecária retirando os livros que estavam na mesa ao lado.
- Me..me desculpa...eu...
-Tudo bem! Raramente vejo alguém que consiga sair daqui sem antes tirar uma sonequinha. - a moça falou sorrindo de forma doce.
- Eu te ajudo! É o mínimo que posso fazer.

Forçando a se levantar, Valerie pegou os livros de sua mesa e os levou até as estantes de onde sairam. Voltou até a mesa, pegou a mochila e observou pela janela a noite que caia lentamente.

Que tipo de sonho maluco tinha sido aquele? Onde era aquele lugar bonito? Parecia ser algum lugar na Europa.
Quem eram "eles"?
Por que estava...nua?

E o pior, o que diabos Kevin Walker fazia no seu sonho?

sábado, 11 de junho de 2011

CAPÍTULO 5

- Valerie? Valerie você tá me ouvindo?
Ouviu a voz irritante de Amber a chamar.
-Hã?
- Eu não acredito! Já tem 2 semanas que o Walker tá dando aula e você ainda não acostumou com a beleza estonteante dele?- e olhou o professor que descia a escada principal em direção ao estacionamento.
- Quem? Eu não estava olhando o idiota do Walker!
-Sei...

E era verdade, não estava! Não sabia bem ao certo o que estivera olhando, ou tentando olhar. O fato é que nas duas últimas semanas tinha se tornado uma paranóica. A todo momento sentia que estava sendo observada.
Já não bastasse as noites mal dormidas ouvindo as orgias da vadia da sua mãe, agora essa constante sensação de perseguição vinha também lhe atormentar.

As roupas estavam ficando largas. Estava perdendo peso assustadoramente. Mas por mais que tentasse pensar em comida , simplesmente não tinha fome. E quando forçava-se a empurrar algo guela abaixo, podia contar com o vômito depois.

Olhou para suas mãos. As unhas que sempre foram seu orgulho, compridas e sempre bem feitas, agora não passavam de tocos com um esmalte preto descascado. Tudo culpa dessa maldita e insistente aflição.

Não conseguia mais se concentrar nos estudos. Nem mesmo a literatura,sua matéria favorita, lhe interessava mais. Matemática era um martirio, não só porque era sua pior matéria mas também porque não conseguia olhar a capa do livro sem se lembrar daquele maldito professor!

Será que estava obsecada por aquele cara? Será que tudo o que estava sentindo não era simplesmente o seu subconsciente refletindo a culpa por se sentir atraída por um professor?
Não! Claro que não! Quem disse que se sentia atraída por aquele imbecil?

Estava a uma quadra de casa quando resolveu mudar o rumo.

- Pra onde você tá indo?
Só então se lembrou que Amber ainda estava com ela.
- Vou à biblioteca. Não consigo estudar em casa.Quem sabe, num ambiente próprio pra estudos eu tenha algum sucesso.
-Credo! Aquele lugar me lembra minha avó. Velho, cheirando a mofo...

Valerie chegou à seguinte conclusão: Amber com certeza nunca tinha parado pra cheirar aquele suéter horroroso! Nem a ala com os livros mais antigos superavam o cheiro de múmia daquela garota.

-A gente se vê amanhã então,Amber.
- Tudo bem! Tchau! Ah, e vê se tira o Walker da cabeça! - ela deu uma piscadinha e uma risadinha sarcástica e se virou andando com aquele jeito "serelepe" irritante.

"Vaca" pensou Valerie observando Amber se afastar.

Na biblioteca pegou o máximo de livros que pôde sobre História e Literatura. Isso manteria seu foco nos estudos. Nada de cálculo por hoje!
Estudou por alguns minutos, ou horas, não sabia bem, quando sentiu os olhos pesarem. Podia abaixar um pouco a cabeça e descansar. Sim, claro que podia. A bibliotecária a acordaria caso caísse no sono.

Valerie aconchegou a testa no braço direito e afundou na escuridão. Sentiu seu corpo ceder ao cansaço.

Mas não iria descansar, o que lhe aguardava talvez ainda lhe tirasse o sono de muitas noites.

sexta-feira, 3 de junho de 2011

CAPÍTULO 4

Uma sensação anormal tomou conta de Kevin. Não sabia o porquê, mas havia algo estranho naqueles olhos azuis. Bastou um rápido cruzar de olhos para suas entranhas revirarem.
Raiva! Sentia uma raiva descomunal por aquela garota!
Mas como podia ser isso possível?
Não lembrava de tê-la vista jamais em sua vida, mas estava claro que sua presença despertava nele os piores sentimentos.

Algumas risadas estridentes o despertaram de seu transe e só então se deu conta de que estava diante de cerca de 40 alunos.
Tentou disfarçar o desconforto que sentia na presença daquela garota. Precisava disfarçar afinal teria que lidar com ela até o final do semestre.
Concentrou no que havia planejado para a aula e alguns minutos depois sentiu que o nervosismo inicial o abandonara.

Esse semestre seria sem sombra de dúvida, um semestre memorável.

.....................................................................................

Era óbvio que todas as garotas estavam encantadas por aquele professor playboyzinho! Era bonito, demais até, mas fora isso não havia nada de interessante naquele sujeitinho! Sinceramente achava que a Sra Summers ensinava melhor. Pelo menos conseguia se concentrar no que a velha estava dizendo. Ela não tinha essa voz grave, suave, envolvente e nem essa boca perfeitamente desenhada nem... Mas no que diabos estava pensando!? Essa era mais uma aula de matemática e esse era mais um professor insuportável com quem teria que conviver até o final do semestre!

- Eu achei a aula do Sr Walker perfeita, não concorda?- perguntou Amber com aquela cara de menina sonhadora enquanto colocava o canudo no suco de caixinha.

Não! Não concordava!

- Ah...Na verdade continuo sem entender nada de matemática.
- Ih querida, então eu acho que o problema está em você.-desdenhou com o canudo na boca.

"O problema está nesse seu suéter fedorento e nesse bafo de fossa que você tem, querida!"

- É...Acho que você tem razão!- disse Valerie a contragosto abocanhando uma maçã.
- Você ouviu o que o Sr Walker disse não é? Aquele que estiver com as notas muito abaixo da média terá aulas extras à tarde! Eu não me importaria em ter aulas extras com aquele homem, mas nem o gostoso do Walker me fará perder horas extras estudando matemática!
-Vou me esforçar pra não precisar dessas aulas também.-Valerie olhou para os lados e então sussurrou - Sei lá...esse cara me faz...sentir estranha.
- Claro que faz! Quero ver qual foi a menina que não se sentiu excitada com aquele deus dando aula!

Não era excitação! Valerie sentia algo bem diferente! Era medo e ao mesmo tempo ódio. Mas não podia negar, sentia uma forte atração por Kevin Walker. Algo que nunca sentiu antes por nenhum homem.
No entanto, sabia que isso não significava que o que sentia era algo bom. Sentia que nessa atração havia algo...diabólico.

Valerie olhava fixamente a maçã em sua mão,sem de fato observá-la, tentando entender o porquê de tudo aquilo quando sentiu um ar frio e congelante que a fez tremer. Olhou para os outros alunos no refeitório e todos continuavam concentrados nas suas refeições, ou nas conversas alheias,como sempre. Amber continuava com seu mangá aberto e tagarelando sobre sei lá o quê. Ninguém parecia sentir o corpo enrijecer ou qualquer outra sensação de mal estar.
Apenas Valerie sentia que de alguma forma estava sendo observada.