segunda-feira, 1 de agosto de 2011

CAPÍTULO 11

Ela permaneceu imóvel. Então, o estranho era amigo do Walker? Mas então por que diabos ele a estava espionando? Será que o professor tinha algo a ver com isso? E por que se sentia tão estranha quando aquele rapaz estava por perto? Nada fazia sentido.

Valerie olhou o relógio que agora apontava 6:30. Será que ela estava em casa àquela hora? Bem, não custava nada tentar, não é? Correu para a cabine telefônica do outro lado e discou o número que, de tanto olhar para o cartão durante a semana, já tinha decorado. Uma voz tranquila e suave a atendeu. A jovem suspirou aliviada ao ouvir a mulher dizer que não haveria problema em recebê-la em sua casa. A garota o endereço e correu para não não perder o ônibus que a levaria até a Srta Mullen.

O bairro em que a psicóloga morava divergia completamente do qual Valerie morava. A atmosfera era agradável, as crianças brincavam nas ruas inocentementes enquanto sua mães conversavam à porta de suas casas. Os jardins extremamente bem cuidados denunciavam que ali viviam pessoas com certo poder aquisitivo.

A garota avistou no final da rua, a casa amarela que a Srta Mullen descrevera. A ansiedade de Valerie em alcançá-la a fez apressar o passo.
Tocou a campainha e aguardou. Uma mulher bonita, beirando os seus 35 atendeu a porta. Era alta, tinha pele de porcelana, bonitos olhos verdes. Os longos cabelos loiros que caíam sobre seus ombros lhe davam a aparência de um anjo. Ou talvez essa fosse apenas a impressão que Valerie tinha dela.

- Pensei que fosse demorar mais, querida. - falou suavemente com um sorriso calmo no rosto.
- Desculpa pelo horário, eu...
-Não se preocupe!Entre - interrompeu-a Elizabeth Mullen.

Com passos vacilantes, Valerie entrou na casa e de imediato sentiu como se tivesse adentrando em um desses cenários de seriado da Warner. A casa da Srta Mullen era perfeitamente arrumada e bem decorada. Nada tão grandioso ou caro, mas a harmonização em que os móveis e objetos estavam dispostos davam ao ambiente uma sensação de aconchego e tranquilidade.

Um cheiro de temperos invadiu-lhe as narinas e seu estômago reclamou audivelmente.

-Quer ficar para o jantar?-sorriu solenemente a psicóloga.
Valerie corou e apressou-se a responder:
-Não, obrigada. Bem, serei o mais breve possível. - respirou e continuou- E o vi hoje novamente.
-Quem? O rapaz do capuz?
-Sim e descobri que ele e o professor Walker são amigos.
Um ar preocupado e confuso perspassou o rosto da psicóloga e Valerie sabia porquê.

Quando decidira procurar sua ajuda há mais ou menos 1 semana, estava certa de que estava realmente louca. Talvez tivesse sido justamente por esse motivo que decidiu entregar os pontos e fazer aquela consulta. No primeiro dia se sentia extremamente desconfortável com aquelas perguntas sobre sua vida. Jamais se abrira com ninguém, quanto mais com uma estranha que anotava tudo que era dito. Já a partir do segundo dia, as coisas começaram a mudar. A Srta Mullen nada lhe perguntou e sim começou a falar sobre seus próprios problemas. Falou da sua vida, de quando perdera os pais em um trágico assalto, falou do noivo que ainda estava com problemas para sair da Finlândia, contou seus medos. A partir daí, Valerie já não a via mais como uma simples psicóloga e sim como uma cúmplice. Uma cúmplice dos seus sentimentos.
Decidiu então falar sobre o tal rapaz do capuz. Elizabeth então lhe disse que talvez ele nem estivesse olhando diretamente para ela ou que aquela aparição fosse apenas outro truque da sua mente, afinal acabara de ver a si mesma toda ensaguentada! Ela acreditara nesta última teoria até então.

No entanto, naquela tarde, tudo simplesmente desmoronou. Sentiu-se perdida! Tudo era de fato real! Sentiu medo e viu esse medo tomar o olhar de Elizabeth.

- Bem, posso perguntar ao Kevin quem...
-Não!- não, ela não podia perguntar nada a ele! Não agora que tudo parecia correr bem entre os dois. Não queria que ele a visse como uma psicótica.- Acho melhor,hmm, investigarmos primeiro. Talvez ele estivesse mesmo olhando para outra pessoa, quem sabe?!- ou não, pensou.
-É..Talvez seja isso mesmo.

A Srta Mullen parecia ainda preocupada. Preocupada com um problema que nem era dela! Era por isso que Valerie não gostava de falar sobre seus problemas com os outros. Odiava que se preocupassem, ou se ocupassem com algo que devia ser solucionado unicamente por ela!
Levantou-se de sobressalto e falou:
-Acho melhor ir andando!

A expressão da Srta Mullen se desanuviou e novamente aquela expressão serena apareceu em seu rosto:
- Fique para o jantar! Estou fazendo carne assada com batatas!
- Mas Srta Mullen, eu...
- Beth. Pode me chamar de Beth! Vamos lá, estou sozinha e estou cozinhando comida para um batalhão!

Valerie pensou na proposta,lembrou que há muito não comia algo que valesse a pena e decidiu aceitar o convite.

Naquela noite, pela primeira vez em sua vida, chegaria perto de saber o que era um jantar em família.