sexta-feira, 13 de janeiro de 2012

Capítulo 12

Noite perfeita e agradável!
Essas poucas palavras descreviam sua noite ao lado da Srta Mullen.
Nunca a esqueceria, isso era sem sombra de dúvida a mais pura verdade.
E foi justamente pensando nisso, dando tanta importância a esse sentimento, que cometeria o erro daquela noite.

Era uma sexta-feira chuvosa.
Após a aula, passou em uma mercearia e comprou os ingredientes necessários com o pouco dinheiro que havia guardado nos últimos meses. Estava se sentindo uma criança prestes a ir no seu parque favorito ou coisa do tipo.Sentia-se ansiosa. Não importava que a chuva fina estivesse fustigando em seu rosto nem importava suas roupas ensopadas. Deixara de lado todas as suas preocupações. Não pensara no sujeito esquisito nem em Kevin.
Queria uma noite em família, mesmo que sua família se resumisse à sua mãe drogada e vadia.

Chegando em casa, vestiu um shorts jeans e sua camiseta favorita do Kiss a qual escondeu atrás de um avental. De pés descalços se dirigiu à cozinha levando consigo o seu rádio com sua fita favorita, aquela que continha as melhores músicas de hard rock.

Primeiro vinha a limpeza. Jogou fora o arroz quase verde que se encontrava no forno, os restos de frango mofados na geladeira, a caixa de cereais vencida, o resto de leite azedo em uma das garrafas. Lavou a louça, limpou o fogão e tentou dar uma ajeitada no pouco mantimento que tinham no armário.

Depois abriu o livro de receita emprestado pela senhorita Mullen, ou Beth como ela gostava que a chamasse, e se debruçou na bancada afim de entender exatamente as instruções daquela receita.Quem observasse aquela cena, com certeza a acharia engraçada. Quem iria imaginar que um dia Valerie Smith se encontraria nessa situação? De avental, mexendo um panela aqui, descascando batatas acolá e cantando The Runnaways como uma louca?
Talvez seja por isso que sua mãe, ao entrar,tenha se chocado tanto com a cena, ou talvez fosse apenas efeito dos entorpecentes.

- O que diabos está acontecendo aqui? - gritava com uma voz estridente Marian Smith.

Percebendo a expressão da mãe, Valerie soube na mesma hora, que a situação não acabaria bem.

- Estava preparando o jantar. - ia dizendo em tom baixo e delisgando o rádio que estava em cima da pia.
Não podia deixar de notar o cheiro acre de álcool que exalava de sua mãe conforme esta se aproximava.

-Você é alguém tipo de retardada ou o que? - dizia a mãe mostrando toda sua indignação e apontando para a carne assada sobre a mesa. - Você acha que devemos comer isso? Você tem noção do quanto essa porcaria custa?

-Não precisa se preocupar, não foi com o seu dinheiro!

Não aguentaria ficar olhando aquela mulher asquerosa, com aquela cara vermelha e olhos de ressaca. Olhar para ela neste estado era o mesmo que olhar para uma velha decrépita desmaiada em seu próprio vômito. A náusea que tinha era a mesma, e afinal, essa era a imagem que teria de sua mãe em alguns anos,certo?

-Olhe para esta casa, sua estúpida!!- gritava alucinada apontando para todos os cantos- Olhe bem!!! Isso é uma merda! Moramos em um apartamento de merda! E devemos nos contentar com nossa vida de merda! Isso - dizia arregalando os olhos e pegando a carne espremendo-a - Isso é coisa de gente rica, coisa de gente diferente de nós!Aceite sua vida, garotinha idiota!

-CHEGA! Dane-se você e sua vida imbecil! Não é porque você escolheu ser o que você é, uma merda, que eu tenho que seguir o seu exemplo.

E sem olhar para trás, atravessou o corredor batendo a porta do quarto atrás de si. Se trancava em seu quarto, em seu mundo, em sua mente!

Valerie não conseguia controlar o uivo de dor que vinha de suas entranhas.
Todo seu sofrimento estava vindo à tona, em um turbilhão de sentimentos.
Se algum dia teve uma outra vida, devia ter sido uma pessoa muito ruim, um demônio, e agora nesta vida estava a pagar por todos seus pecados!
Chorava pois tudo que lhe restava naquela noite era chorar. E esperar que no outro dia o sol estivesse brilhando novamente.